A região do Tatuapé perde casas antigas pela verticalização imobiliária
- forumfdc
- Feb 20, 2024
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O novo Plano Diretor Estratégico (PDE) de São Paulo, hoje é visto como “libera
geral” ou “São Paulo está à venda", afirmam urbanistas que analisam a dinâmica da
votação pela maioria da base governista, do prefeito Ricardo Antunes (MDB), de
quem comanda o mercado imobiliário na cidade mais rica do país.
De acordo com dados do último censo do IBGE, São Paulo possui 600 mil imóveis
desocupados e concentra 25% de toda a população em situação de rua do Brasil,
conforme levantamento realizado pelo Observatório Brasileiro de Políticas Públicas.
E com a revisão, o novo Plano Diretor Estratégico de São Paulo (PDE), aprovado
pela Câmara dos Vereadores de São Paulo, em 2023, será responsável por orientar
e decidir, sobre as políticas públicas urbanas do município pela próxima década,
onde serão as futuras estações de metrô, áreas de proteção ambiental e a
construção de novos prédios na cidade.
O novo desenho da política de planejamento urbano recebeu críticas da sociedade
civil e de especialistas em planejamento urbano, que afirmam que o Plano Diretor
vai acirrar desigualdades na capital paulistana.
Segundo os urbanistas, o PDE pode dividir e provocar muito mais a desigualdade
social entre pessoas que podem pagar comprar imóveis e tantas milhares sem
recursos vão morar na rua, o futuro da urbanização está comprometido com essa
política.
Em junho de 2023, o Sindicato dos Arquitetos de São Paulo (SASP) realizou
diversas manifestações públicas em debates, ruas e na web, contra a revisão do
Plano Diretor, com o tema “São Paulo está à venda".
A entidade ressalta que a revisão do PDE, em vigor desde 2014, foi introduzindo
uma espécie de nova estratégia para organizar as formas de uso e ocupação do
solo na cidade. “O vereador Rodrigo Goulart, relator do substitutivo ao PL 127/2023,
atendeu 70% das reivindicações do setor imobiliário apresentadas pela Associação
Brasileira da Indústria da Construção (ABRAINC)”.
Para a urbanista Raquel Rolnik, a proposta era concentrar prédios mais altos com
muito mais gente perto do metrô, do trem e dos corredores exclusivos de ônibus,
com a esperança de fazer com que as pessoas que usam transporte coletivo
pudessem morar perto dele.
A revisão do plano, segundo Rolnik, foi sofrendo alterações quando concedeu uma
série de incentivos para o mercado imobiliário poder atuar de acordo com a
regulação ao longo dos eixos de corredores exclusivos de ônibus e em volta das
estações de metrô.
A ideia inicial era trazer facilidades para as pessoas que trabalham ficarem mais
próximas do transporte, evitando o carro, e da residência em cima do comércio
embaixo, com uso misto e o tamanho máximo dos apartamentos, de forma a
construir prédios muito mais densos para mais gente poder morar onde tem
transporte.
No bairro do Tatuapé, um modelo deste cenário é o edifício Platina, que hoje é o
mais alto de São Paulo com 178 m de altura e ocupado por imóveis comerciais.
Localizado na área central em ponto estratégico, é visível em boa parte da grande
São Paulo.
O edifício representa o adensamento em áreas com grande fluxo de transporte
públicos, shoppings e comércios, próximo a grandes vias de tráfego, como as
avenidas Salim Farah Maluf e Radial Leste e Marginal Tietê. Um exemplo é a
verticalização no Tatuapé.
A ideia inicial de 400 metros em torno das estações de metrô, agora vão ser mil; ao
invés de trezentos metros em torno dos corredores de ônibus, agora são quinhentos
onde poderão ser produzidos os prédios altos e comerciais, se verticalize mais, uma
espécie de “libera geral”, afirma Rolnik.
Francisco que mora em Suzano e trabalha em um restaurante na rua Tuiuti, ao lado
do shopping Tatuapé e terminais de ônibus e estação da CPTM/ Metrô, gostaria de
morar próximo em casas, mas acha que está caro na região, ficaram mais cara e
competitiva para o mercado imobiliário, um exemplo é o bairro do Jardim Anália
Franco, um dos mais caros da cidade.
Para o comerciante, a verticalização é triste, pela transformação da área, onde as
casinhas eram o charme do bairro, sua preferência de moradia. Ele não gosta de
prédio pois têm cachorros, e prefere tê-los do que ter que doar. Ele conta que
muitos sobrados, onde moravam sua freguesia, traziam uma característica mais
aconchegante e bairrista, agora estão no chão para construção de prédios
altíssimos.
“Só quer construir prédio, qualquer coisinha agora é prédio, oxi! E ganha dinheiro
igual água. Prefiro mais uma casa, apartamento você é muito preso”
Para Raquel Rolnik, é na prática, uma desestruturação da proposta original, em um
contexto em que o mercado imobiliário, mais do que servir às pessoas e às suas
necessidades de morar, serve à necessidade de um capital financeiro excedente,
que tem no imobiliário um importante ativo: “é o que a gente chama de especulação
imobiliária.”
De acordo com a urbanista: “nós vivemos o maior boom do mercado imobiliário nos
últimos anos na cidade de São Paulo”, e, ao mesmo tempo, a maior crise
habitacional que nós já tivemos neste século, A resposta está na no número de
pessoas morando nas ruas.
A crise da moradia pode desencadear uma revolução dos movimentos sociais para
cobrar dos governos políticas públicas voltadas à inclusão habitacional. O mercado
imobiliário sempre teve um enorme poder na canetada da Câmara no Plano Diretor
e no zoneamento que define a rentabilidade do negócio desse segmento, Câmara,
ressalta Rolnik.
Para a urbanista, os movimentos sociais da luta antirracista, feminista e
socioambiental podem mudar as ocupações para serem reabilitadas. Exemplo como
se organizaram movimentos, das ocupações organizadas, como a luta pelo Parque
do Rio Bixiga, a luta da Saracura Vai Vai e do Parque Bruno Covas.
Reportagem: Márcia Brasil
Fonte: Sindicato dos Arquitetos de São Paulo (SASP)/ Câmara Municipal de São
Paulo / Arquiteta Raquel Rolnik (Agência Pública/ UOL)
Imagens: Márcia Brasil
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