Quem cuida de quem só faz cuidar?

Uma reflexão sobre a romantização da sobrecarga da mulher brasileira, que acumula

funções e responsabilidades ao longo da vida

Março é o mês das mulheres, e somos sempre lembradas pela força, resiliência e

capacidade de cuidar da família, trabalho, e todas as mil responsabilidades que assumimos

ao longo da vida.

Segundo o IBGE, quase 10 milhões de mulheres assumiram o posto de chefe de família,

trabalhando fora, cuidando da saúde de filhos e outros familiares sem deixar de lado as

responsabilidades domésticas. “ As mulheres são as que mais frequentam o sistema único

de saúde, não só para o seu próprio atendimento, mas também para acompanhar amigos,

vizinhos, familiares. Elas são as que geralmente administram o cuidado dentro de casa,

pela própria lógica do cuidado, que nós temos na nossa sociedade, uma sociedade

machista patriarcal. Então as políticas públicas são majoritariamente voltadas para o público

feminino, reconhecendo também esse valor e esse potencial da mulher em gerenciar não só

o cuidado mas todas as outras questões”, diz Flávia Verdugo, Diretora de Atenção à Saúde

da cidade de Suzano.

A grande maioria das mulheres estão sobrecarregadas e se sentem pressionadas a ser a

‘mulher guerreira’ que dá conta de tudo, sem perder o brilho e a feminilidade que ainda nos

é cobrada pelo patriarcado. Então falar de saúde da mulher é também destacar a

importância do autocuidado para além do corpo físico. “ Nós temos que frisar não só a

questão biológicas, mas também a saúde mental, porque toda essa sobrecarga ela acarreta também uma sobrecarga, na saúde mental, desenvolvendo estresse, ansiedade,

depressão, o'que é muito comum porque há uma sobrecarga e um peso moral muito grande em relação a mulher de sempre ter que provar que é capaz, e isso consequentemente vai afetar a sua saúde em todos os aspectos, porque o nosso corpo responde a essas questões externas, não tem jeito”, afirma Flávia.

Mas a pergunta que fica é: Quem cuida de quem só faz cuidar? Conversei com algumas

mulheres que trabalham fora e cuidam de suas casas, algumas mães solos, outras

casadas. As angústias são muito parecidas, pouco tempo para cuidar de si mesma e poder

priorizar a saúde mental fazendo algo a satisfaça pessoalmente.

Mãe solo de duas crianças, Luisa de 3 anos e João Pedro de 10, Camila como muitas

mulheres brasileiras, se divide entre a rotina do trabalho e as responsabilidades da casa

com os filhos. “O que geralmente eu realmente faço sozinha, são as minhas leituras, mas

utilizo do tempo em que eles estão dormindo ou no trajeto de ida e vinda do trabalho. Não

tenho um momento específico para fazer algo pra mim, quando vou fazer algo é com eles”,

desabafa Camila.

Pequenas práticas diárias podem contribuir positivamente para a saúde mental da mulher,

tirar um pequeno tempo que seja para fazer algo para si própria é tarefa que deve estar no

cronograma diário de cada uma de nós.

A Central de Notícias da Rádio INTEIRA AÇÃO é uma iniciativa do Projeto Os Limites do Humor. Este projeto foi realizado com o apoio da 6ª Edição do Programa Municipal de Fomento ao Serviço de Radiodifusão Comunitária Para a Cidade de São Paulo.

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